Vuca Pinheiro
Nasceu na Vila Nova Sintra, Ilha Brava, no dia 23 de janeiro de 1948. Filho de Júlio José Pinheiro, médico, já falecido e de Maria da Conceição Azevedo Pinheiro. Tenho 10 irmãos, sendo 5 mulheres e 5 homens, curiosamente espalhados por 3 continentes, sendo que o maior número deles se encontra aqui residindo em 6 diferentes Estados dos EUA. A minha primeira infância aconteceu na ilha Brava, mais precisamente na Vila Nova Sintra, no auge da sua vitalidade habitacional, num clima de muita intensidade cultural, num ambiente propício a serenatas, saraus culturais, festas de romaria e musicalmente favorável à introdução de jovens em andanças de aprendizagem musical.
O meu primeiro instrumento foi uma gaita de boca oferecida por um amigo de meu pai. Noutros tempos, também o meu pai já me havia oferecido uma guitarra portuguesa. Mas, aos poucos, ainda garoto (por volta dos 12 anos de idade) e durante o período de férias escolares, comecei a sentir a influência das serenatas, das tocatinas na praça e dos ensaios de grupos musicais da época na ilha Brava. Nessa ilha, sempre houve o hábito de quase todos tocarem um instrumento musical, mas havia um que se sobressaía dos demais e por isso cativava a minha atenção. É ele o Djick Oliveira, antigo professor do Liceu da Praia e hoje também professor de violão. Assim, e sem que ele percebesse, tornou-se o meu mentor e a tentativa de emulação do mestre veio logo a seguir, quando em casa tentava repetir o seu feito. Essas tentativas me tornaram muito cedo num autodidata que gosta de explorar as cordas de um violão e de ter desenvolvido uma maneira muito peculiar de tocar, uma vez que nunca gostei de imitar ninguém. Mais tarde, já no Brasil, complementei a minha educação musical frequentando uma escola de música (“Música de Minas”) por 2 anos, o que me ajudou a alargar os meus conhecimentos musicais e a conhecer e aceitar novos horizontes, novas escalas, e novos ritmos.
O meu trajeto musical sempre teve a finalidade primeira de fazer renascer a composição bravense e trazê-la para o seio da atualidade musical cabo-verdiana, uma vez que a mesma vinha progressivamente se perdendo no tempo sem que se pudesse vislumbrar outro panorama mais favorável.
A saudade da terra natal, vivida em terras brasileiras, e a necessidade de preservar a cultura tradicional cabo-verdiana (especialmente a bravense), fez com que eu focalizasse toda a minha atenção sobre o assunto. Assim, comecei por gravar, nos EUA em 1985, o meu primeiro disco (“Força Di Cretcheu”), quando a música de Martinica sufocava literalmente a música tradicional cabo-verdiana. Contrariamente a todas as previsões, esse disco de mornas antigas da ilha Brava conseguiu obter um enorme sucesso que fez com que a morna se reafirmasse no cenário musical cabo-verdiano aqui nos EUA.
Discografia
1985 – “Força Di Cretcheu” – Instrumental – Mornas antigas da ilha Brava da autoria de Eugénio Tavares, José Medina, Rodrigo Peres, Silvestre Faria, Wilson Nunes e Lúcio Azevedo.
1987 – “Ês Quê Nha Terra Cabo Verde” – Instrumental – Mornas antigas da ilha Brava espelhando composições de Eugénio Tavares, Djedjinho, Silvestre faria, José Medina, Edwino Nunes e Álvaro Soares. Para demonstrar que tinha intenção de gravar mornas de outras ilhas, incluí neste disco mais duas mornas de São Vicente, composições de Gabriel Mariano, Jacinto Estrela e Djô D’Eloy.
1993 – “Cretcheu Na Paz” – Instrumental – 8 mornas antigas da ilha Brava. Neste disco incluí duas composições de minha autoria, sendo uma delas (“Nôs Poeta Rodrigo”) uma homenagem a Rodrigo Peres, um dos nossos grandes compositores da ilha Brava. A outra morna (“Sodade de Cabo Verde”) viria a ser regravada mais tarde no CD “Vuca Pinheiro & Amigos”.
1996 – “Fama Sem Prubêto” – Instrumental – Mornas da Brava, Fogo, Boavista e São Vicente, para além de novos ritmos incluidos como a mazurca, valsa e samba, estes de minha autoria.
2000 – “Vuca Pinheiro & Amigos” – Devido ao acúmulo de composições de minha autoria, versando sobre amor, saudade e crítica social, decidi convidar cantores da nossa comunidade imigrada a interpretarem essas composições. Assim, participaram do CD: Djosinha, Piduca Silva, Armando de Pina, Sãozinha Fonseca, Quirino DoCanto, Lutchinha, Zé Rui, Judite Pinheiro, Duducha, Amadeu Fontes, José Silva, Galvão e Vuca Pinheiro, num total de 32 músicos envolvidos.
2009 – “Terra De Eugénio” – Segundo CD com composições de minha autoria interpretadas por Bana, Tó Alves, Piduca Silva, Armando de Pina, Calú Bana, Toi Pinto, Quirino DoCanto, Judite Pinheiro, Lutchinha, Carlos Diamantino e Aníbal. Este CD, versando também sobre o amor, a saudade e a crítica social, teve a colaboração de 34 artistas sob o tema da “união entre músicos”.
2012 – “Novo Horizonte” – Duplo CD instrumental com um total de 51 temas gravados em 30 faixas. Para além de 12 composições de minha autoria, este CD Duplo contém temas de origem Cabo-verdiana, Brasileira, Portuguesa, Latina e Argentina.
2012 – “Marchas de Fim-de-Ano da Ilha Brava” – Um trabalho de pesquisa e recuperação de 15 temas da memória bravense dos anos dourados da Ilha das Flores, (por sinal com 4 composições do meu pai), com interpretações de Djosinha, Armando de Pina, Sãozinha Fonseca, Van Feijóo Pereira, Djuta Barros, Peter Arteaga, Esmeraldo Duarte e Carlos Mendes.
2018 – “50 Anos de Lides Musicais de Vuca Pinheiro” – Duplo CD sendo um com 14 temas de minha autoria e outro instrumental com uma seleção de alguns temas dos meus quatro primeiros álbuns instrumentais. No primeiro, e só para esta ocasião especial, pedi licença aos meus amigos para me apresentar neste CD como “cantor”, que definitivamente não sou.
Born in Vila Nova Sintra, Brava Island, on January 23, 1948, Vuca Pinheiro is the son of the late Dr. Júlio José Pinheiro, a physician, and Maria da Conceição Azevedo Pinheiro. He is one of eleven siblings—five men and five women—spread across three continents, with the majority residing in six different states across the United States.
Early Life and Musical Awakening
Vuca Pinheiro spent his early childhood on Brava Island, particularly in Vila Nova Sintra, during its peak in cultural and residential vibrancy. It was an environment teeming with serenades, cultural soirées, religious festivities, and rich musical traditions, making it an ideal setting for young minds to be introduced to music.
His first instrument was a harmonica, a gift from a friend of his father. Later, his father also gifted him a Portuguese guitar, but his true musical awakening happened around the age of 12, during school vacations, when he was captivated by serenades, plaza performances, and the rehearsals of musical groups on Brava Island.
Music was deeply ingrained in Brava’s culture, and nearly everyone played an instrument. However, one musician stood out the most—Djick Oliveira, a former teacher at the Praia Lyceum and now a guitar instructor. Without Djick’s knowledge, Vuca considered him a mentor, meticulously attempting to emulate his playing style at home. This self-taught approach led Vuca to develop his own unique way of playing the guitar, as he never wished to imitate anyone.
Later, in Brazil, he refined his musical knowledge by studying at the “Música de Minas” school for two years. This education broadened his understanding of new musical horizons, scales, and rhythms, enriching his perspective and creativity.
Musical Mission and Cultural Preservation
From the beginning, Vuca Pinheiro’s musical journey was dedicated to the revival and preservation of Brava’s musical compositions, bringing them into the modern Cape Verdean musical landscape. He was deeply concerned that these traditional melodies were being gradually lost over time.
His longing for his homeland, while living in Brazil, and his desire to preserve Cape Verdean culture—particularly Brava’s—became his main focus. This commitment led him to record his first album in the U.S. in 1985, titled “Força Di Cretcheu”, at a time when Martinican music was overshadowing traditional Cape Verdean sounds. Against all expectations, this album, featuring old Brava mornas, became a huge success, reaffirming the morna genre within Cape Verdean music, especially among the diaspora in the U.S.
Discography
1985 – Força Di Cretcheu
- Instrumental album featuring classic mornas from Brava Island, composed by Eugénio Tavares, José Medina, Rodrigo Peres, Silvestre Faria, Wilson Nunes, and Lúcio Azevedo.
1987 – Ês Quê Nha Terra Cabo Verde
- Another instrumental album showcasing traditional Brava mornas by Eugénio Tavares, Djedjinho, Silvestre Faria, José Medina, Edwino Nunes, and Álvaro Soares.
- To express his intention of recording mornas from other islands, he included two mornas from São Vicente, composed by Gabriel Mariano, Jacinto Estrela, and Djô D’Eloy.
1993 – Cretcheu Na Paz
- Instrumental album featuring eight traditional Brava mornas.
- Included two of his own compositions:
- “Nôs Poeta Rodrigo”, a tribute to Rodrigo Peres, one of Brava’s great composers.
- “Sodade de Cabo Verde”, later re-recorded on the album “Vuca Pinheiro & Amigos”.
1996 – Fama Sem Prubêto
- Instrumental album featuring mornas from Brava, Fogo, Boavista, and São Vicente.
- Introduced new rhythms, including mazurkas, waltzes, and sambas, composed by Vuca himself.
2000 – Vuca Pinheiro & Amigos
- Due to an extensive collection of his own compositions—exploring themes of love, longing, and social criticism—he invited Cape Verdean immigrant artists to interpret his songs.
- Featured 32 musicians, including Djosinha, Piduca Silva, Armando de Pina, Sãozinha Fonseca, Quirino DoCanto, Lutchinha, Zé Rui, Judite Pinheiro, Duducha, Amadeu Fontes, José Silva, Galvão, and Vuca Pinheiro himself.
2009 – Terra De Eugénio
- His second album of original compositions, interpreted by Bana, Tó Alves, Piduca Silva, Armando de Pina, Calú Bana, Toi Pinto, Quirino DoCanto, Judite Pinheiro, Lutchinha, Carlos Diamantino, and Aníbal.
- Explored themes of love, nostalgia, and social criticism, featuring 34 artists and emphasizing the importance of unity among musicians.
2012 – Novo Horizonte
- Double instrumental album with 51 songs across 30 tracks.
- Included 12 original compositions, alongside Cape Verdean, Brazilian, Portuguese, Latin, and Argentine musical themes.
2012 – Marchas de Fim-de-Ano da Ilha Brava
- A research and restoration project focused on 15 traditional Brava year-end marches from the island’s golden era.
- Featured compositions by his father and interpretations by Djosinha, Armando de Pina, Sãozinha Fonseca, Van Feijóo Pereira, Djuta Barros, Peter Arteaga, Esmeraldo Duarte, and Carlos Mendes.
2018 – 50 Anos de Lides Musicais de Vuca Pinheiro
- Double CD, featuring:
- 14 original songs by Vuca Pinheiro.
- An instrumental selection from his first four albums.
- To mark this special occasion, Vuca took the bold step of singing for the first time, even though he does not consider himself a singer.
Legacy and Influence
Vuca Pinheiro’s lifelong mission has been to preserve and promote Brava’s musical heritage, ensuring that its mornas and other traditional sounds remain part of Cape Verde’s rich musical tapestry. His work has not only revived forgotten compositions but also introduced them to new generations and expanded their influence across continents.
His music reflects a deep nostalgia for his homeland, a commitment to tradition, and an open-minded approach to musical evolution. Through his dedication, Brava’s melodies continue to resonate worldwide, honoring the roots, history, and essence of Cape Verdean music.